29 de janeiro de 2014

Arena

Subitamente, o capitão da nave estelar se viu fora da ponte de comando.

Assustado, correu os olhos pela paisagem e deduziu que estava em um planeta desconhecido, sem sequer saber como havia chegado ali. Ao seu redor, desertos e montanhas mostravam diferentes tons de marrom e indicavam ausência completa de água. Não havia ninguém à vista. Mesmo assim, uma estranha sensação de que estava sendo observado despertou em seu cérebro.

Ouviu uma voz distante que parecia vir de todas as direções, mas não entendeu o que ela dizia. Aguçou os ouvidos, mas a voz se calou segundos depois.

Com o pequeno comunicador em suas mãos, tentou contatar sua nave, mas não obteve resposta. Estava sozinho.

Olhou para o céu e tentou se guiar pelo Sol, mas sem conhecer a astronomia do lugar, deduziu que era impossível escolher um rumo desta forma. Assim, decidiu partir em direção à montanha mais próxima em busca de uma sombra e começou a caminhar economizando energia.

Enquanto andava, aproveitava para se familiarizar com o terreno. A vegetação era escassa, com somente algumas poucas plantas desérticas crescendo sobre a areia e desafiando o calor.

A voz falou novamente. Por alguns instantes, o capitão acreditou que ela estava dentro de sua cabeça. Entre as centenas de espécies alienígenas conhecidas, muitas possuíam habilidades telepáticas. Mas logo a voz se silenciou novamente.

Sentindo um pequeno filete de suor escorrer pelas suas costas, o capitão calculou que a temperatura era superior a 40 graus, e, sem água, alcançar uma sombra seria prioritário. Manteve a calma, como anos e anos de treinamento haviam lhe ensinado, mas apertou o passo, andando numa velocidade que julgava ideal. Iria cobrir uma boa distância em pouco tempo, mas não gastaria muita energia.

Entretanto, a montanha – e sua sombra – ainda estavam longe.

Estava tentando calcular quanto tempo demoraria até chegar aos pés da montanha quando ouviu a voz novamente. Desta vez, teve certeza de que a voz não estava na sua cabeça, mas sim ao seu redor. Parecia vir de todos os lugares, e sempre com uma mensagem curta e sem emoção. Teve a impressão de que se tratava de alguma mensagem de rotina. Talvez disparada automaticamente.

Vendo a montanha se aproximar, o capitão passou a concentrar sua atenção na sensação de estar sendo observado.

Talvez estivesse sendo vigiado por alguma criatura relacionada à voz que ouvia, mas não poderia ter certeza. A cada número de passos, olhava ao redor em busca de um sinal de vida inteligentes, mas avistava somente plantas e pedras espalhadas sobre o mar de areia.

Mas tinha certeza de que não estava sozinho.

A voz falou novamente. Definitivamente, vinha de todos os lados e lugares – incluindo do céu e do chão – mas desta vez o capitão reparou que, mesmo sem conseguir identificar as palavras, os primeiros sons da mensagem eram iguais aos da mensagem anterior. Apenas o final mudava, com fonemas e palavras diferentes.

Apesar de saber que seria inútil, tentou contatar sua nave novamente. Nada.

Daria tudo por um sensor que lhe apontasse de onde a voz vinha e, mais importante, a posição da criatura – ou criaturas – que, tinha certeza, estavam acompanhando seus passos. Conforme se aproximava da montanha, a sensação de que estava em perigo se transformou num pequeno formigamento na sua nuca.

Mas sua única opção era andar até a sombra, que agora estava a poucos metros.

A voz falou novamente. Desta vez, o capitão teve certeza de que os primeiros sons eram iguais em cada mensagem.

Mas não teve tempo de se concentrar nas palavras seguintes. Uma pequena cabeça reptiliana havia aparecido alguns metros à frente, por trás de um agrupamento de pedras ao pé da montanha. Estava claramente vigiando os passos do capitão ao mesmo tempo em que tentava permanecer escondida.

Ao perceber a criatura, o capitão institivamente se jogou atrás de uma grande rocha à sua esquerda, buscando esconderijo. Recuperando o fôlego, esperou alguns instantes em silêncio, mesmo sabendo que já havia sido detectado.

O formato da cabeça não deixada dúvidas: tratava-se de um drocon, inimigos jurados dos humanos e famosos em toda a galáxia por suas habilidades como caçadores. Esperava ouvir uma chuva de tiros laser atingindo a pedra, mas nada aconteceu.

Talvez o drocon também estivesse desarmado?

Novamente, a voz misteriosa e onipresente começou a soar. Arriscando uma rápida espiada pela lateral da pedra, viu o drocon ainda atrás das pedras, olhando para o alto e para os lados, procurando a origem da mensagem.

O capitão voltou a se esconder ao mesmo tempo em que a voz se calou., pensando no que havia visto.

O drocon também estava ouvindo a voz como também não sabia de onde o som vinha. Ele e o alienígena estavam na mesma situação. Haviam sido transportados para aquele planeta sem saber o motivo, jogados ali desarmados e sem comunicação para se enfrentarem. O propósito de tudo aquilo, agora, estava claro para ele: ele e o drocon haviam sido escolhidos como oponentes em uma espécie de jogo.

Ainda atrás da rocha, o capitão, intrigado, olhou para o céu imaginando que tipo de criatura estaria observando o desenrolar dos acontecimentos naquela misteriosa arena.

A voz falou novamente. Desta vez, o capitão teve certeza de que as primeiras palavras eram “próxima estação”. Mas não conseguiu entender o final da mensagem. Arriscou uma nova olhada por trás da pedra, para conferir a posição do guerreiro drocon...

E o garoto, sentado no metrô, venceu a curiosidade e se forçou a abaixar o livro. Virou-se para a senhora sentada ao seu lado.

- Com licença?

- Sim?

- Qual é a próxima estação? Eu estava lendo e não ouvi direito.

- Clínicas.

- Ah, sim. Obrigado. Eu vou descer aqui. A senhora me dá licença?

Levantou-se e foi até a porta do metrô. O trem parou na estação e ele desceu na plataforma. Mas, em vez de se dirigir à escada rolante, sentou-se em um dos bancos e abriu o livro novamente. Não ia aguentar esperar enquanto andasse até sua casa. Precisava saber o que iria acontecer com o capitão naquele planeta estranho.

Enquanto o metrô ia embora, abriu o livro e procurou a página que estava.

O capitão ainda estava escondido e arriscou uma nova olhada por trás da pedra, para conferir a posição do guerreiro drocon...



(A ideia deste post nasceu alguns anos atrás, pela minha experiência em quase perder a estação do metrô por estar "preso" dentro de livros - tanto que a escolha das Clínicas ainda remete ao tempo que eu morava em Pinheiros, época em que esta ideia nasceu. A escolha de ficção científica é somente para homenagear um dos meus gêneros preferidos - e toda a trama "do livro" homenageia o episódio de Jornada  nas Estrelas que dá título ao post)

3 leitores:

Varotto disse...

Drocon Wars.

Estrelando:

Capitão (como o capitão)
Drocon (como o drocon)

E a participação especial de Locutor do Metrô (como a voz).

Em breve, em um trilho perto de você.

Fábio M. Barreto disse...

O cara fica fazendo maratona de Jornada nas Estrelas e dá nisso! hahahahah

No próximo capítulo, o Capitão tira a camisa!

O pior é que ele se comporta como o Picard, mas, não sei pq (claro que sei), fico vendo o Kirk! =D

well done, sir!

K.P. disse...

Ai Rob, agora vou ficar pensando em todos os sons ao meu redor quando começar a ler alguma coisa e pensar em como eles estão influenciando os personagens. :P Vai ser doideira.

 

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